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Esta postagem foi publicada em 3 de fevereiro de 2012 e está arquivada em Penso, logo insisto.

Até tu, Brutus?

ATÉ TU, BRUTUS?

Do meu tuíter @Plinio_Zingano – A pior estrada para um ser humano percorrer é a Via das Dúvidas.

Quem não conhece as palavras do título? É uma daquelas frases que entram no falar cotidiano e vão sendo repetidas como um ditado, sem se saber o seu real significado. Elas servem para uma determinada situação e pronto. No Brasil, ao que me lembre, foi realmente vulgarizada pelo programa de televisão “A Praça é Nossa”, por Manoel de Nóbrega, ou pelo filho, Carlos Alberto, não tenho certeza. Na tevê, era utilizada com conotação sexual, sempre colocando em dúvida a heterossexualidade de algum personagem. O “Brutus”, um nome romano, se prestava ainda mais para os trocadilhos por sua semelhança com “bruto”, dando viés a toda uma catadupa de interpretações abjetamente jocosas.
A exclamação original seria atribuída a Júlio César, ao ver o filho adotivo, Marcus Brutus, entre seus assassinos à entrada do Senado, em Roma, no ano 44 a.C.. Não há total comprovação histórica dessa sentença. Shakespeare, na peça The Tragedy of Julius Caesar, c. 1599, deu-lhe a forma conhecida por nós. O drama trata de honra e amizade. E, fundamentalmente, de gratidão. Pois este é o nosso tema hoje.
Por qual motivo conhecemos tantos ingratos? Você já notou? Faça um pequeno balanço de sua vida e conte quanta gente, depois de receber sua ajuda – aqui, outro ditado – “virou o cocho”. Pois, é, muita! O ser humano odeia guardar a lembrança de numa determinada ocasião não ter sido autossuficiente e ter necessitado o amparo alheio.
Esse recente caso de Caxias do Sul, em que um ex-empregado matou o ex-patrão, o filho deste e mais um amigo do filho, ilustra claramente o sentimento de que estou falando. O sujeito aceitou a acolhida de sua futura vítima, morando e comendo à custa dela, aprendendo um ofício, enfim, ganhando uma chance na vida. Sabe-se lá como era a vida anterior. Então, sentindo-se fortalecido, investiu contra o benfeitor, o símbolo de uma fraqueza, segundo sua mente transtornada.
Claro, nem todos os casos de ingratidão terminam da mesma maneira felizmente. As pessoas, pelo menos nisso, tomam atitude mais sensata: afastam-se. Mas a lembrança machuca, por isto tentam esquecer. Aliás, nem a reconhecem como verdadeira. Para os ajudados, todo ato feito a seu favor um dia, não passou de obrigação do ajudador, pois para isso viemos ao mundo, não é? Qualquer recordação do fato soa como cobrança indevida. Então, num processo cruel, transformam o benfeitor num inimigo que é melhor nunca mais encontrar.
Bem, agora que você lembrou de todos a quem ajudou, tente recordar-se daqueles que o ajudaram! Veja se encontra alguém!

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