
Na manhã desta quarta-feira (11), o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) deflagrou a 13ª fase da Operação Leite Compensado, revelando um esquema de adulteração de leite com soda cáustica e água oxigenada. A ação teve como foco a empresa Dielat Laticínios, localizada em Taquara, e marca o retorno de investigações sobre práticas fraudulentas no setor, que não ocorriam desde 2017.
Com o cumprimento de quatro mandatos de prisão, três empresários do Rio Grande do Sul e um de São Paulo foram indicados como principais envolvidos. As operações ocorreram em Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na capital paulista, com buscas realizadas em residências e na sede da empresa investigada.
Os agentes chegaram à fábrica de Taquara no início da manhã, durante uma troca de turnos de funcionários, momento em que, segundo as investigações, uma adulteração era realizada. Além disso, foram detectados “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.
O Ministério Público informou que a Dielat distribui seus produtos por todo o Brasil e os exporta para a Venezuela. A empresa já apresentou laticínios para escolas e órgãos públicos após vencer licitações. No mercado brasileiro, as marcas vendidas são Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall, enquanto na Venezuela os produtos são comercializados como Tigo.
O promotor Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, destacou a gravidade da reincidência. “É inadmissível que um esquema tão prejudicial à saúde pública volte a ocorrer, especialmente envolvendo profissionais reincidentes”.
“O alquimista”
O alvo principal é um engenheiro químico, apelidado de “Alquimista”, acusado de liderar um esquema de fraudes envolvendo consultorias no setor de laticínios.
Segundo o MP, o engenheiro, cuja identidade não foi divulgada, havia sido absolvido em 2005 em um caso semelhante. No entanto, investigações recentes indicam que ele retomou atividades fraudulentas, apesar de estar judicialmente proibido de atuar no setor de laticínios. De acordo com as autoridades, ele teria orientado técnicas para reativar o esquema na fábrica de Taquara.
O MP destacou que a atuação do engenheiro configura uma clara violação das restrições impostas anteriormente pela Justiça. Ele foi detido na primeira fase das investigações em 2014, mas voltou a operar clandestinamente, reaproveitando sua experiência para esquivar-se de fiscalizações.
A operação também teve como objetivo apreender celulares, documentos e outros materiais que possam servir como evidências contra os envolvidos. As investigações apontaram que o grupo utilizava aplicativos de mensagens e radiocomunicadores para se comunicar, em uma tentativa de evitar interceptações pelas autoridades.
Rockenbach afirma que, depois de 2017, após a Leite Compensado 12, houve apenas duas denúncias sobre a adulteração no leite, mas ambas envolvendo pouca quantidade de adição de água ao produto, o que não rendeu uma nova fase da operação. No entanto, foram sugeridos e fiscalizados pequenos ajustes na cadeia produtiva.
“Mas agora, a situação é outra. Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o ‘alquimista’ – ou ‘mago do leite’. Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele na [operação] Leite 5. Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, ressalta Rockenbach.
Crime aprimorado
Já o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez e, ainda por cima, volatiza ou desaparece rapidamente, não sendo detectada nas análises.
“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação. Vale lembrar que as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite. Por exemplo, sobre o composto lácteo, eles chegam a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo novamente. Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica que é cancerígena”, destaca Bastos.
IMAGENS
Produtos estavam indevidamente armazenados no setor administrativo, fora da validade e em decomposição.



