Inge Dienstmann
Esta postagem foi publicada em 7 de fevereiro de 2020 e está arquivada em Inge Dienstmann.

Quando o respeito fica preservado com as calcinhas no armário, por Inge Dienstmann

Quando o respeito fica preservado com
as calcinhas no armário

Admiro muito as pessoas que conseguem manter o respeito e a harmonia após o término de uma relação conjugal. E me pergunto por que alguns conseguem, e outros não.

Recentemente, durante um curso em São Paulo, conheci uma mulher que me relatou sobre o fim de seu casamento. Ela contou das tensões e das dores dos primeiros tempos da separação, porque sempre há desconforto nestas decisões. Mas, entre mágoas iniciais e posteriores entendimentos, um detalhe simbólico me chamou a atenção. A mulher, ao deixar a casa antes compartilhada, deixou lá, na mesma caixa bonita e perfumada, as calcinhas que só usou em momentos íntimos com o ex-companheiro.

Enxerguei, naquele gesto, um compromisso de respeito ao que viveram juntos, selado ainda enquanto estavam sob o mesmo teto, mesmo que na tensão dos momentos finais daquela relação.

Eu amo desvendar os sinais em atitudes singulares como o daquela mulher. Ao deixar as calcinhas especiais resguardadas no santuário que construíram juntos, ela expressou, sem palavras, que estava colocando aquela relação numa redoma.

Hoje, pouco tempo após a separação, o ex-casal já vive uma relação harmônica. Isto se tornou possível porque houve preservação de ambas as partes, evitando ofensas, desrespeito, ganância material.

Conseguiram colocar o respeito pela própria história acima do ego, das picuinhas materiais.

Exemplos como este me fazem pensar também sobre o cenário oposto: “os ex” que passam a desconstruir a imagem do outro. Não tendo competência para se reinventarem, encontram na desqualificação do outro o único meio de consolo.

Na maioria das vezes, a dor que as pessoas não conseguem superar está no ego (de quem foi traído, trocado, diminuído em seu orgulho) e/ou no status (perda de posição social, de situação financeira). É quando se colocou, ao longo da relação, o valor próprio e/ou as próprias expectativas de vida, inteiramente nas mãos e sob a responsabilidade do outro.

Ao final de um relacionamento, se restarem autoestima, ou estabilidade financeira, ou ainda projetos profissionais viáveis, haverá um futuro pessoal a ser vislumbrado à frente. E não apenas um passado rancoroso a ser debitado exclusivamente na conta do outro.

Inge Dienstmann
Jornalista, de Taquara
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