
Conhecida como retrofit, a revitalização de imóveis antigos ou históricos tem se mostrado uma forma inteligente de preservação do patrimônio cultural, dando uma nova vida a construções antigas e até símbolos dos municípios. Dando uma caminhada pela região central de Taquara é possível observarmos alguns casarões antigos que recentemente ganharam uma nova “roupagem”, como é o caso do sobrado que foi da família Amoretti, localizado na rua Tristão Monteiro.
Com processo de revitalização conduzido pelo mais recente proprietário do imóvel, a Casa Amoretti sofreu poucas alterações no seu modelo original, apenas em pontos em que os materiais estavam bastante deteriorados e não puderam ser reaproveitados, e atualmente está sendo utilizada como residência na parte superior e espaço comercial no andar térreo.
Conforme o “Inventário do Patrimônio Histórico, Arquitetônico e Cultural de Taquara”, desenvolvido por alunos do curso de História das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), a Casa Amoretti, localizada na rua Tristão Monteiro, número 1050, foi construída por volta de1930 e está em seu quinto proprietário.
O imponente casarão amarelo, que compõe um conjunto arquitetônico de imóveis antigos da rua Tristão Monteiro, serve como testemunho de um período de desenvolvimento, modernidade e urbanização dos quarenta primeiros anos do século XX.
Comprado por Alcides Amoretti para ser a residência da família, o sobrado de alvenaria era composto inicialmente por três pisos, sacada frontal e entrada lateral, imóvel construído em um amplo terreno, com jardim e um frondoso pé de cereja nos fundos do quintal.
A localização estratégica da Casa Amoretti, numa rua que servia de caminhos para o litoral e interior de Taquara, próxima ao antigo centro administrativo do município (sede da prefeitura) e de estabelecimentos comerciais, demonstrava a força econômica e política da família Amoretti.
Após um desacerto sobre quem ficaria com a casa, já que todos os herdeiros queriam mantê-la para suas respectivas famílias, o imóvel foi disponibilizado para aluguel e, mais recentemente, vendido para a família Matte.
Conforme Fernando Matte, que reside na parte superior da Casa Amoretti, a revitalização do prédio está sendo realizada por ele mesmo, que procura manter todos os materiais originais, modificando apenas uma parte do projeto original, já que antes servia somente como residência e hoje possui também uma loja na parte de baixo.
“Eu mesmo fiz todas as mudanças que você pode ver aqui. Claro que isso foi um processo demorado, e que ainda não foi totalmente concluído, já que o custo para revitalizar um imóvel antigo é muito mais alto do que simplesmente reformar uma casa”, analisa Fernando.
O primeiro andar do casarão, que abriga uma loja de flores e presentes, foi modificado e recebeu uma escada interna, criando uma ligação com a parte de cima, que abriga uma loja de roupas e calçados, ocupando boa parte do segundo andar.
Para separar a parte comercial da residencial, Fernando fechou duas portas internas, construindo uma parede de tijolos atrás das aberturas de madeira, e transformou esses locais numa espécie de cristaleira e adega.
Em outro ponto da casa, com o uso de uma parte das madeiras antigas que precisaram ser trocadas do telhado, pode-se observar um beliche, composto por duas camas, também construída pelo Fernando, que se considera um aprendiz na arte da construção e carpintaria.
“Antes dessa casa, eu nunca havia me envolvido em reformas ou construção de algum objeto de madeira. Agora, sempre que eu tenho um tempo livre eu troco um piso, renovo o jardim ou pinto um cômodo da casa”.
Foi assim, inclusive, que a reportagem da Rádio Taquara encontrou Fernando, em meio a pintura que estava realizando na sala. Isso poucos meses depois de promover uma verdadeira mudança numa parte desocupada na lateral direita do terreno. Entre o muro que faz divisa com o vizinho e a parede do casarão, foi construído um pequeno telhado, as paredes rebocadas e pintadas e o chão recebeu piso de porcelanato, se transformando em uma área de serviço.
Na lateral esquerda, onde originalmente tinha um muro que se estendia até a rua Tristão Monteiro, Fernando decidiu fazer um recuo, trazendo o muro mais pra perto do jardim, cuidadosamente ornamentado por sua mãe Luzia, mantendo o mesmo portão de ferro e leões de cimento que estão no casarão desde 1930, tranformando a calçada em estacionamento para a funerária da família, localizada no prédio ao lado.
Questionado sobre a previsão para concluir a revitalização da Casa Amoretti, Fernando confessa que não tem um prazo determinado para terminar os trabalhos, pois está constantemente pensando em melhorias para realizar no imóvel.
“Como é uma casa antiga, sempre fica uma coisinha ou outra pra fazer. E a gente vê um detalhezinho aqui ou ali e vai melhorando, seja aqui dentro do imóvel, no jardim ou na horta, que estamos cultivando aqui nos fundos do quintal”, conta Fernando Matte.