
Saideira Pub
Era uma novidade naquele bar. Coisa promovida pelo novo proprietário que, segundo diziam alguns frequentadores de carteirinha, havia trabalhado muito tempo nos bares da noite carioca. Além disso, a novidade estaria em perfeita sintonia com as tendências da moda – Facebook, Instagram, Site, essas coisas. Também iria se chamar Pub, não mais bar ou boteco, mas pub. Algo inovador na pequena cidade. E assim sendo, seu Heitor, nem por um minuto pensou em questionar a ordem do novo patrão, pelo contrário, gostou. Afinal, seu Heitor sempre teve a fotografia como Hobby.
E o novo patrão, quando soube disso, o encarregou da tarefa de circular entre as mesas e fotografar os clientes para postar as fotos nas redes sociais. Amigos, namorados, casais, pais e filhos. Todos sorridentes e simpáticos diante da câmara. Todos virando garotos propaganda do estabelecimento. Todos evidenciando a felicidade de frequentar o “Saideira Pub”.
Todos, menos aquele casal da mesa do canto. Seu Heitor, carismático e espontâneo, aproximou-se. O casal, na faixa dos trinta e poucos anos, foi recíproco nas cordialidades. Estava tudo muito bom, eles disseram. A música, os petiscos, a cerveja, sim, a mulher repetiu, tudo muito bom. Seu Heitor, discretamente, observou que o homem tinha aliança na mão esquerda, mas, a mulher não.
Seu Heitor perguntou se moravam na cidade. Não! Foi a reposta do homem, estamos de passagem, gostamos de conhecer novas cidades e lugares bacanas, tipo esse pub. E o homem completou, mas preferimos não aparecer em fotografias. Mesmo ela sendo a mulher mais linda da face da terra, o homem disse, com os olhos voltados para a mulher, depois, olhando para seu Heitor: “Nunca ficando bem nas fotos. O senhor compreende, né?”
Sim! Seu Heitor compreendia. Ele despediu-se do casal, com aperto de mão e desejo de felicidades. O casal se olhou, “Estamos felizes” e riram. Ele continuou com sua função enquanto se dirigia ao outro lado do pub. Encostou-se na parede, era uma parede recém pintada de marrom, onde foram dependurados alguns quadros com fotos de artistas de Hollywood e algumas cidades americanas, na base da parede, havia uma palmeirinha emprestando verde ao local. De lá, o velho fotógrafo não se furtou em observar mais uma vez o casal. E olhando dali, parece-lhe que tudo estava no lugar certo com aqueles dois. Tudo como deve ser. Sim, senhor! Ele compreendia. De fato, existem felicidades que não dizem respeito a mais ninguém. Existem felicidades que não precisam ser propagadas, ele murmurou para si. E resolveu que, naquela noite não iria mais fotografar.
Doralino Souza
Jornalista e escritor, de Igrejinha.
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